segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

Amir Slama, o papa da moda-praia


Filho de imigrantes, um iraquiano e uma romena, que chegaram ao Brasil nos anos 50, o paulistano de nome estrangeiro Amir Slama tem muita história para contar. O início da carreira na moda aconteceu ao herdar do pai quatro máquinas de costura e alguns metros de lycra. Ao lado da hoje esposa, Riva, passou seis meses fazendo e vendendo roupas de ginástica. Mas logo teve a idéia de investir em outro tipo de produção e passou a elaborar peças como biquínis e maiôs. Antes disso, porém, Amir foi garçom, barman e formou-se em história, pois queria dedicar-se às pesquisas históricas. “Comecei a olhar para a moda como meio de me comunicar”, conta. Aliando esse desejo e todas as informações que adquiriu ao longo da vida ao lado do pai, um ex-comerciante do ramo da confecção, não foi difícil dar o pontapé inicial para aquilo que seria o maior negócio de sua vida: a Rosa Chá. Hoje, a marca está espalhada em 22 franquias pelo Brasil, tem três lojas no exterior – Lisboa, Miami e Istambul -, e faz as apresentações de suas coleções em Nova Iorque, sempre no mês de setembro.



Você acredita que o mercado da moda no Brasil é promissor?
Amir Slama -
Se você olhar para o Brasil, há dez anos e hoje, há um salto. A moda-praia é genuinamente brasileira, é um lifestyle brasileiro. É a moda que começou com maiô e biquíni e agora é um jeito de vestir com saias, túnicas, que encantam o brasileiro e o mundo. Há 15 anos desenvolvo coleções e desde a primeira delas, essa é uma atitude minha.


Como você classifica a moda-praia brasileira?
AS -
A moda brasileira é sofisticada e despojada. Fácil, gostosa.


Como é hoje a produção da Rosa Chá? Tem exportado muito?
AS -
Oitenta por centro do que produzimos é para o mercado interno. São 22 lojas no Brasil, franquias, e três no exterior: Lisboa, Miami e Istambul, e o projeto é abrir outras unidades.


Você desistiu das semanas de moda brasileiras, por quê?
AS -
Desde 2004, faço apresentações das coleções em Nova Iorque. Fazia a São Paulo Fashion Week e Nova Iorque e comecei a perceber que essas são cidades internacionais da moda e vi que é redundante repetir a apresentação. Hoje, apresento em Nova Iorque e consigo mostrar as coleções.


Com sua experiência internacional, diria que a modelagem menor tem mudado o gosto das mulheres estrangeiras?
AS -
A imprensa de moda diz que as pessoas querem usar coisas maiores. A calcinha maior tem seu público, mas não é o desejo da maioria. Nos últimos dez anos, a mulher passou a querer conforto. Lá fora, a modelagem fica mais funcional; Estados Unidos e Europa querem algo menor, influência de modos brasileiros.



Você acredita que essa vontade de vestir algo menor tem a ver com maior auto-estima?
AS -
Hoje a mulher é mais segura do seu corpo, não tem pudor e é mais independente.


Qual é a maior contribuição que, na sua opinião, a Rosa Chá tem dado à moda brasileira?
AS -
Acho que Rosa Chá faz a ligação entre praia e moda. O mercado foi percebendo e elevando a roupa de praia à condição de moda.


Também é importante citar aí a qualidade da sua matéria-prima, uma coisa que, aliás, vem do início, quando você teve que buscar uma empresa têxtil estrangeira, já que as brasileiras não quiseram fornecer o que você desejava.
AS -
Desde a minha primeira loja queria mostrar o trabalho do começo ao fim. Era um conceito novo. Naquele momento, o biquíni era um acessório. Não existia esse conceito de moda de verão. Quebramos esse tabu, como também quebramos o tabu de que a moda-praia era carioca. A sensualidade é brasileira e interpretar a mulher e o homem brasileiro é coisa nossa. Quando se coloca na passarela Adriana Lima, que é da Bahia, e Gisele Bündchen, que é Porto Alegre, elas são brasileiras. Isso transcende regiões. E quando você vai lá para fora ganha outra identidade, que é a de sul-americano.


Como foi firmar sua marca no mercado exterior?
AS -
Foi gratificante como a imprensa recebeu. Comecei a apresentação em Nova Iorque sem recursos. Levei as minhas peças na mala e consegui que a Vogue fotografasse. Depois veio o showroom, até que chegamos aos 40 pontos de venda. Meu objetivo era conquistar os mercados americano, europeu e japonês. Hoje, a marca é de prestígio e tem um trabalho de conceito, para comunicar.


Quando falamos em moda-praia, o que a mulher não aceita de jeito nenhum?
AS -
Hoje é relativo, porque se fala em tribos, não tem um tipo só de mulher. Mas, as marcas não podem ser grandes, os decotes e as tiras devem ser menores, é preciso reforçar o busto. São códigos que aprendemos com o passar do tempo.


Como é seu processo de criação das coleções?
AS -
Não tenho regras. A influência pode vir um livro, de uma exposição que eu vejo, uma cidade que eu visito. A gente que mexe com estilo, ganha uma sensibilidade grande e as coisas se mostram. Hoje, faço quatro coleções no ano: inverno, verão, alto-verão e projetos especiais.


Grandes grifes têm sido vendidas e passado a fazer parte de conglomerados empresariais. A própria Rosa Chá se associou à Marisol. Como você avalia esse momento na moda brasileira?
AS -
Há quase dois anos fiz a associação com a Marisol para organizar a logística da produção. Fui o precursor disso, que é uma necessidade do mercado. A moda vem crescendo, a Abest (Associação dos Estilistas Brasileiras, fundada há quatro anos) representa isso. Se não tiver fusão, não se consegue atender aos desafios e fazer frente ao mercado externo. Essa é uma evolução natural do crescimento. Ou faz isso ou não consegue ir para frente. Temos que fortalecer as marcas e os nomes, pois lá fora as marcas são muito estruturadas.


Qual foi a maior alegria que a Rosa Chá já te proporcionou?
AS -
Às vezes brinco dizendo que tenho dois filhos e uma filha, que é a Rosa Chá. Continuo tendo muitas emoções. É um trabalho apaixonado e com vários momentos de alegria, como a abertura da primeira loja, o primeiro desfile nas semanas de moda, a primeira apresentação em Nova Iorque.


Gostei muito das inspirações em artistas como Hélio Oiticica e Cândido Portinari para suas coleções de verão e inverno. Como é sua relação com as artes plásticas? Vai muito às exposições, adquire obras de arte?
AS -
Leio muito biografias, vou à exposições e adoro livros de arte.


Fale um pouco como são desenvolvidas as estampas para as coleções.
AS -
As estampas são criadas, desenhadas em pequenos pedaços de desenhos e depois raportadas. E como se fosse uma pintura mesmo.

7 comentários:

Salvatore disse...

ola, marcia! muito bacana a entrevista. posta tb fotos da colecao dele, ja q ele nao desfila mais no brasil. bjs! ah, por um lapso, seu blog nao estava listado no meu..lapso ja corrigido, claro..sucesso ao blog!

Anônimo disse...

Oi Sal, tem foto da coleção postada anteriormente. A bela da foto é a Carol Trentini.

Salvatore disse...

"poizè", depois eu vi....rsrsrs

Anônimo disse...

Marcia

Tudo bem ?

Nao consegui ver o jornal.
Se puder me mandar...
Vi o blog, e ficou muito bom !
Obrigado !

Bjs

Amir

Fê Resende disse...

ooooooolha, que chique! além da entrevista incrível tem comentário do amir em si! arrasante!!!! =)

sora disse...

Marcinha Boop,

Já tinho lido no jornal, mas foi ótimo conhecer seu blog. Parabéns e beijos



Sora

Senhorita B. disse...

Que máximo! Sucesso, amiga!
Bjs