
Filho de imigrantes, um iraquiano e uma romena, que chegaram ao Brasil nos anos 50, o paulistano de nome estrangeiro Amir Slama tem muita história para contar. O início da carreira na moda aconteceu ao herdar do pai quatro máquinas de costura e alguns metros de lycra. Ao lado da hoje esposa, Riva, passou seis meses fazendo e vendendo roupas de ginástica. Mas logo teve a idéia de investir em outro tipo de produção e passou a elaborar peças como biquínis e maiôs. Antes disso, porém, Amir foi garçom, barman e formou-se em história, pois queria dedicar-se às pesquisas históricas. “Comecei a olhar para a moda como meio de me comunicar”, conta. Aliando esse desejo e todas as informações que adquiriu ao longo da vida ao lado do pai, um ex-comerciante do ramo da confecção, não foi difícil dar o pontapé inicial para aquilo que seria o maior negócio de sua vida: a Rosa Chá. Hoje, a marca está espalhada em 22 franquias pelo Brasil, tem três lojas no exterior – Lisboa, Miami e Istambul -, e faz as apresentações de suas coleções em Nova Iorque, sempre no mês de setembro.
Você acredita que o mercado da moda no Brasil é promissor?
Amir Slama - Se você olhar para o Brasil, há dez anos e hoje, há um salto. A moda-praia é genuinamente brasileira, é um lifestyle brasileiro. É a moda que começou com maiô e biquíni e agora é um jeito de vestir com saias, túnicas, que encantam o brasileiro e o mundo. Há 15 anos desenvolvo coleções e desde a primeira delas, essa é uma atitude minha.
Como você classifica a moda-praia brasileira?
AS - A moda brasileira é sofisticada e despojada. Fácil, gostosa.
Como é hoje a produção da Rosa Chá? Tem exportado muito?
AS - Oitenta por centro do que produzimos é para o mercado interno. São 22 lojas no Brasil, franquias, e três no exterior: Lisboa, Miami e Istambul, e o projeto é abrir outras unidades.
Você desistiu das semanas de moda brasileiras, por quê?
AS - Desde 2004, faço apresentações das coleções em Nova Iorque. Fazia a São Paulo Fashion Week e Nova Iorque e comecei a perceber que essas são cidades internacionais da moda e vi que é redundante repetir a apresentação. Hoje, apresento em Nova Iorque e consigo mostrar as coleções.
Com sua experiência internacional, diria que a modelagem menor tem mudado o gosto das mulheres estrangeiras?
AS - A imprensa de moda diz que as pessoas querem usar coisas maiores. A calcinha maior tem seu público, mas não é o desejo da maioria. Nos últimos dez anos, a mulher passou a querer conforto. Lá fora, a modelagem fica mais funcional; Estados Unidos e Europa querem algo menor, influência de modos brasileiros.
Você acredita que essa vontade de vestir algo menor tem a ver com maior auto-estima?
AS - Hoje a mulher é mais segura do seu corpo, não tem pudor e é mais independente.
Qual é a maior contribuição que, na sua opinião, a Rosa Chá tem dado à moda brasileira?
AS - Acho que Rosa Chá faz a ligação entre praia e moda. O mercado foi percebendo e elevando a roupa de praia à condição de moda.
Também é importante citar aí a qualidade da sua matéria-prima, uma coisa que, aliás, vem do início, quando você teve que buscar uma empresa têxtil estrangeira, já que as brasileiras não quiseram fornecer o que você desejava.
AS - Desde a minha primeira loja queria mostrar o trabalho do começo ao fim. Era um conceito novo. Naquele momento, o biquíni era um acessório. Não existia esse conceito de moda de verão. Quebramos esse tabu, como também quebramos o tabu de que a moda-praia era carioca. A sensualidade é brasileira e interpretar a mulher e o homem brasileiro é coisa nossa. Quando se coloca na passarela Adriana Lima, que é da Bahia, e Gisele Bündchen, que é Porto Alegre, elas são brasileiras. Isso transcende regiões. E quando você vai lá para fora ganha outra identidade, que é a de sul-americano.
Como foi firmar sua marca no mercado exterior?
AS - Foi gratificante como a imprensa recebeu. Comecei a apresentação em Nova Iorque sem recursos. Levei as minhas peças na mala e consegui que a Vogue fotografasse. Depois veio o showroom, até que chegamos aos 40 pontos de venda. Meu objetivo era conquistar os mercados americano, europeu e japonês. Hoje, a marca é de prestígio e tem um trabalho de conceito, para comunicar.
Quando falamos em moda-praia, o que a mulher não aceita de jeito nenhum?
AS - Hoje é relativo, porque se fala em tribos, não tem um tipo só de mulher. Mas, as marcas não podem ser grandes, os decotes e as tiras devem ser menores, é preciso reforçar o busto. São códigos que aprendemos com o passar do tempo.
Como é seu processo de criação das coleções?
AS - Não tenho regras. A influência pode vir um livro, de uma exposição que eu vejo, uma cidade que eu visito. A gente que mexe com estilo, ganha uma sensibilidade grande e as coisas se mostram. Hoje, faço quatro coleções no ano: inverno, verão, alto-verão e projetos especiais.
Grandes grifes têm sido vendidas e passado a fazer parte de conglomerados empresariais. A própria Rosa Chá se associou à Marisol. Como você avalia esse momento na moda brasileira?
AS - Há quase dois anos fiz a associação com a Marisol para organizar a logística da produção. Fui o precursor disso, que é uma necessidade do mercado. A moda vem crescendo, a Abest (Associação dos Estilistas Brasileiras, fundada há quatro anos) representa isso. Se não tiver fusão, não se consegue atender aos desafios e fazer frente ao mercado externo. Essa é uma evolução natural do crescimento. Ou faz isso ou não consegue ir para frente. Temos que fortalecer as marcas e os nomes, pois lá fora as marcas são muito estruturadas.
Qual foi a maior alegria que a Rosa Chá já te proporcionou?
AS - Às vezes brinco dizendo que tenho dois filhos e uma filha, que é a Rosa Chá. Continuo tendo muitas emoções. É um trabalho apaixonado e com vários momentos de alegria, como a abertura da primeira loja, o primeiro desfile nas semanas de moda, a primeira apresentação em Nova Iorque.
Gostei muito das inspirações em artistas como Hélio Oiticica e Cândido Portinari para suas coleções de verão e inverno. Como é sua relação com as artes plásticas? Vai muito às exposições, adquire obras de arte?
AS - Leio muito biografias, vou à exposições e adoro livros de arte.
Fale um pouco como são desenvolvidas as estampas para as coleções.
AS - As estampas são criadas, desenhadas em pequenos pedaços de desenhos e depois raportadas. E como se fosse uma pintura mesmo.